Joias no Brasil
Após séculos de guerras, disputas de território e toda sorte de pequenas e grandes revoluções nos campos social, cultural e político, a Europa se via na necessidade de, novamente, expandir seus limites. À época, a expansão das fronteiras geográficas significava riqueza material e conhecimento.
No entanto, a América significou algo ainda além; a imposição cultural com que o colonialismo se consolidou gerou uma grande catástrofe civilizatória. A história das colonizações revela, por um lado, o horror de sociedades invasoras e dominadoras, mas também, o diálogo, a novidade e a construção de uma nova forma de experiência humana.
Entre os indígenas brasileiros havia a lenda da Sabarabuçu, a “serra que brilha”, onde o ouro estaria à flor da terra e nos leitos dourados dos rios, dividindo espaço com pedras preciosas de todas as cores. Seriam necessários quase duzentos anos de exploração para a cobiçada riqueza ser finalmente encontrada. A primeira descoberta significativa de ouro no Brasil foi em 1693, no rio da Casca em Mato Grosso, mas foi a descoberta das minas de Ouro Preto (1698) que se deu início à corrida do ouro, ocorrendo grande êxodo para a região de Minas Gerais. Em 1760, metade do ouro do mundo vinha do Brasil, e em 1988 éramos o 5º maior produtor mundial.
No início do século XVII, a grande maioria das joias que existiam no Brasil era importada de Portugal. Com o tempo, os artistas de diferentes lugares passaram a desenvolver peças com materiais aqui encontrados. São geralmente peças com motivos ingênuos, mas com plasticidade e rigor artístico; uma joalheria que se destinava às famílias abastadas dos senhores de engenhos ou dos burgueses enriquecidos.
As joias coloniais tinham papel utilitário de reafirmação da riqueza dos donos da terra; serviam como enfeite para escravos em festas pelas cidades e também como adorno para as imagens de santos nas procissões.
Na hierarquizada sociedade colonial brasileira, a moda era uma das formas de distinção entre as classes sociais. Nessa época, até os “negros da casa” eram meio de ostentação de riquezas, adornados com pencas de cordões e pulseiras “escrava”. Mesmo após alforriadas, as negras do partido alto (aquelas que afirmavam sua condição de liberdade e condição vestindo-se luxuosamente), criaram uma estética própria abusando do ouro misturado com dentes, ossos, contas coloridas e coral, mostrando com orgulho sua origem africana. Já a elite branca consumia joias refinadas, vindas principalmente de Portugal e França, ricas em diamantes, pérolas, rubis, safiras, e, mais tarde, a esmeralda, a primeira pedra de valor reconhecido a ser descoberta em solo brasileiro pelos bandeirantes, encabeçando a grande variedade de gemas brasileiras, hoje mundialmente difundidas e admiradas.
Foi por volta de 1550 que o regimento dos ourives da cidade de Lisboa criou um sistema de controle, postulando exigências acerca da marcação das peças de ouro e prata originárias da colônia (contraste). A partir do século XVII, começam a vir ourives da Metrópole. Um fato interessante é que, neste período, a maioria dos artesãos era composta de escravos, multados e indígenas, que aprendiam muito rapidamente aquelas habilidades e as desenvolviam com desenvoltura.
Em 18 de julho de 1841, D. Pedro II, aos 14 anos, foi coroado Rei do Império Brasileiro, então tumultuado. Mas ao longo de 58 anos a frente do país, transformou-o numa potência emergente. Com sua monarquia parlamentar constitucional, D. Pedro II manteve estabilidade política, liberdade de expressão, respeito aos direitos civis e crescimento econômico, além de impor com firmeza a abolição da escravidão.
Conhecido como patrono das artes e das ciências, o imperador fez grandes esforços para a criação e a manutenção de órgãos e políticas de desenvolvimento da ciência e cultura no país, com investimentos na música, belas-artes, história e geografia. Neste período é notório o crescimento nas belas-artes, fruto dos investimentos feitos para o crescimento da Imperial Escola de Belas Artes.
Apesar da grande popularidade, D. Pedro II foi retirado do poder em 1889, vítima de um golpe de estado realizado por um pequeno grupo de militares.
Barroco
Num período em que reis comandavam Estados com poderes ilimitados, no qual a igreja se via diante da necessidade de reformulação de seus paradigmas, em que a racionalidade alcançava um status complexo e sistemático, em que a ciência dava sinais claros de um poder contra a irracionalidade, somente um nome como barroco poderia sintetizar a época. O barroco é um período conhecido por sua volúpia, seu exagero, sua volta, sua sobra. Pode-se dizer que arte deste tempo, é o resultado do complexo conjunto de fatores religiosos, políticos e culturais em diálogo com as vicissitudes humanas.
As joias deixam de caminhar lado-a-lado com as Belas Artes e a preocupação se volta novamente para as pedras e o aprimoramento das técnicas sobrepõe-se a expressão intelectual, de status ou crença religiosa. É a época em que Paris, sob o reinado de Henrique IV é reconhecida como centro da moda. Este desenvolvimento só foi possível pelo aumento do fornecimento de pedras preciosas, fruto da permissão concedida aos joalheiros portugueses pela Companhia das Índias para comercialização destes produtos.
É um período de êxito no campo técnico com várias inovações fruto das descobertas das leis da refração e dos princípios da geometria analítica. Porém, restam poucas peças originais; seu alto valor comercial fez com as peças fossem desmontadas para reutilização em peças mais adaptadas à moda das épocas subsequentes.
Época dos descobrimentos
Após séculos de guerras, disputas de território e toda sorte de pequenas e grandes revoluções nos campos social, cultural e político, a Europa se via na necessidade de, novamente, expandir seus limites. Era uma época de florescimento nas ciências e o outro, o desconhecido revela-se como uma necessidade; seus produtos, suas terras, seus conhecimentos e, também, sua riqueza. À época, a expansão das fronteiras geográficas significava riqueza material e conhecimento.
No entanto, a América significou algo ainda além; a imposição cultural com que o colonialismo se consolidou gerou uma grande catástrofe civilizatória. A história das colonizações revela, por um lado, o horror de sociedades invasoras e impositoras, mas também, o diálogo, a novidade e a construção de uma nova forma de experiência humana.
RENASCIMENTO
Revalorização e ressignificação do humano frente ao divino. Assim nascia a Renascença, período de ruptura com o universo feudal, com as estruturas medievalistas e de prevalecimento da racionalidade.
Em arte, o objetivo era produzir obras belíssimas como as da Antiguidade, principalmente a grega, e, até mesmo, superá-las! É um período fértil para as joias, com grandes artistas como Albrecht Dürer, Hans Holbein e Giulio Romano, patrocinados pela nobreza para produzir peças com desenhos que estimulassem os ourives a aperfeiçoar a esmaltação e a fundição, levando a joalheria na Renascença a um nível semelhante ao da Belas Artes.
A Renascença, além dos temas clássicos, trouxe para o universo imaginário dos ourives temas como heróis, sátiros, ninfas e divindades. Era um período de investimento em novidades como adornos para o cabelo e flâmulas que se tornaram símbolo de suas riquezas. Com a expansão do mundo Europeu, novos assuntos interessaram a joalheria, como a botânica e a floricultura, fruto do exotismo do Novo Mundo.
Após séculos de guerras, disputas de território e toda a sorte de pequenas e grandes revoluções nos campos social, cultural e político, a Europa se via na necessidade de novamente expandir seus limites.Desde seu descobrimento, as colônias das índias Ocidentais foram vistas como promessas de grandes riquezas para Portugal e Espanha, ocasionando a necessidade de um acordo para navegação e exploração do Atlântico Sul. O Tratado de Tordesilhas, assinado em 1494, delimitava as terras portuguesas e espanholas na região. Seis anos depois, os portugueses desembarcavam em terras brasileiras. Depararam-se com uma população indígena que andava praticamente nua e adornava-se com penas, conchas, dentes e sementes, além de pinturas corporais. Os espanhóis, ao chegarem às Américas, encontraram uma população que,além de ter o conhecimento da localização de jazidas de ouro e prata, já faziam amplo uso desses metais.
No norte do Peru, foi encontrada, em meados do século XX, a impressionante tumba do Senhor de Sipan, intocada, com um tesouro incrível, comparado às joias de Tutankamon, provando que na região dominavam-se as técnicas de fundição, solda, e o uso do ouro mais de 1000 anos antes da Europa.
Assim, no princípio da colonização brasileira, a riqueza resultante da lucrativa monocultura açucareira e a intensificação do comércio fez com que parte do ouro e da prata encontrados na América espanhola viesse para cá se juntar com as joias prontas vindas da Europa para abastecer a opulência da elite uma vez que quase não havia ourives nas colônias. A maioria dos artesãos era composta de escravos, mulatos e indígenas que rapidamente aprendiam as habilidades para a manipulação do metal.
El Dorado
Desde a pilhagem de Cusco, em 1532, a Europa recebia enormes quantidades de metais vindos da América. Portugal, vendo a Espanha abastecer-se de tamanha riqueza, acreditou que tesouro semelhante poderia ser encontrado em solo brasileiro, uma vez que as terras eram contíguas às do Alto Peru. Atrás dessa possibilidade, Os bandeirantes inspiraram-se no mito do El Dorado, cidade lendária onde a riqueza era tanta que até as construções seriam de ouro. De ambos os lados da Linha de Tordesilhas, ávidos exploradores pereceram ante os imensos desafios da floresta. Não obstante, os espanhóis se depararam com resquícios de várias civilizações pré-incas, cujos reis e sacerdotes se vestiam de ouro, personificando o divino poder do Sol.