Após séculos de guerras, disputas de território e toda a sorte de pequenas e grandes revoluções nos campos social, cultural e político, a Europa se via na necessidade de novamente expandir seus limites.Desde seu descobrimento, as colônias das índias Ocidentais foram vistas como promessas de grandes riquezas para Portugal e Espanha, ocasionando a necessidade de um acordo para navegação e exploração do Atlântico Sul. O Tratado de Tordesilhas, assinado em 1494, delimitava as terras portuguesas e espanholas na região. Seis anos depois, os portugueses desembarcavam em terras brasileiras. Depararam-se com uma população indígena que andava praticamente nua e adornava-se com penas, conchas, dentes e sementes, além de pinturas corporais. Os espanhóis, ao chegarem às Américas, encontraram uma população que,além de ter o conhecimento da localização de jazidas de ouro e prata, já faziam amplo uso desses metais.
No norte do Peru, foi encontrada, em meados do século XX, a impressionante tumba do Senhor de Sipan, intocada, com um tesouro incrível, comparado às joias de Tutankamon, provando que na região dominavam-se as técnicas de fundição, solda, e o uso do ouro mais de 1000 anos antes da Europa.
Assim, no principio da colonização brasileira, a riqueza resultante da lucrativa monocultura açucareira e a intensificação do comércio fez com que parte do ouro e da prata encontrados na América espanhola viesse para cá se juntar com as joias prontas vindas da Europa para abastecer a opulência da elite uma vez que quase não havia ourives nas colônias. A maioria dos artesãos era composta de escravos, mulatos e índios que rapidamente aprendiam as habilidades para a manipulação do metal.
El Dorado
Desde a pilhagem de Cusco, em 1532, a Europa recebia enormes quantidades de metais vindos da América. Portugal, vendo a Espanha abastecer-se de tamanha riqueza, acreditou que tesouro semelhante poderia ser encontrado em solo brasileiro, uma vez que as terras eram contíguas às do Alto Peru. Atrás dessa possibilidade, Os bandeirantes inspiraram-se no mito do El Dorado, cidade lendária onde a riqueza era tanta que até as construções seriam de ouro. De ambos os lados da Linha de Tordesilhas, ávidos exploradores pereceram ante os imensos desafios da floresta. Não obstante, os espanhóis se depararam com resquícios de várias civilizações pré-incas, cujos reis e sacerdotes se vestiam de ouro, personificando o divino poder do Sol.
A Renascença foi um período de prevalecimento da racionalidade e de ruptura com o universo feudal e com as estruturas medievalescas, com a revalorização e ressignificação do humano frente ao divino.
Em arte, o objetivo era produzir obras tão belas quanto as da Antiguidade como, principalmente a grega, e, até mesmo, superá-las. É um período fértil para a joalheria, com grandes artistas como Albrecht Dürer, Hans Holbeine Giulio Romano, patrocinados pela nobreza para produzir peças com desenhos que estimulassem os ourives a aperfeiçoar a esmaltação e a fundição, levando a confecção das joias a um nível semelhante ao das Belas Artes.
A Renascença, além dos temas clássicos, trouxe para o universo imaginário dos ourives temas como heróis, sátiros, ninfas e divindades. Era um período de investimento em novidades como adornos para o cabelo e flâmulas que se tornaram símbolo de riqueza. Com a expansão do mundo europeu, novos assuntos interessaram à joalheria, como a botânica e a floricultura, consequência do exotismo do Novo Mundo.
Num período em que reis comandavam Estados com poderes ilimitados, em que a igreja se via diante da necessidade de reformulação de seus paradigmas, em que a racionalidade alcançava um status complexo e sistemático, em que a ciência dava sinais claros de poder contra a irracionalidade, somente um nome como barroco poderia sintetizar a época. O barroco é um período conhecido por sua volúpia, seu exagero, sua volta, sua sobra. Pode-se dizer que arte deste tempo, foi o resultado do complexo conjunto de fatores religiosos, políticos e culturais em diálogo com as vicissitudes humanas.
As joias deixaram de caminhar lado a lado com as Belas Artes, e a preocupação se voltou novamente para as pedras. O aprimoramento das técnicas sobrepôs-se à expressão intelectual de status ou crença religiosa. É a época em que Paris, sob o reinado de Henrique IV, foi reconhecida como centro da moda. Esse desenvolvimento só foi possível pelo aumento do fornecimento de pedras preciosas, fruto da permissão concedida aos joalheiros portugueses pela Companhia das Índias para comercialização destes produtos.
Foi um período de êxito no campo técnico, com várias inovações,decorrentes das descobertas das leis da refração e dos princípios da geometria analítica. Restam, porém poucas peças originais da época. O alto valor comercial de suas pedras fezcom que as peças fossem desmontadas para sua reutilização em joias mais adaptadas à moda das épocas subsequentes.
A concha; este é o significado da palavra francesa rocaille, mais tarde associada ao movimento artístico europeu Rococó, que surge inicialmente na França como uma variação profana dos barrocos italiano e alemão. Foi um momento de libertação da temática religiosa e de invasão da estética do exagero na pintura, ourivesaria e na decoração.
Foi o período conhecido como Século das Luzes, reflexo de uma época na Europa em que se procurou dar valor à razão contra abusos do Estado e da Igreja e, através disso, valorizar o ser humano numa sociedade plena, sem trevas e obscurecimento da vida. Foi também o período de surgimento do Estilo Luís XV, de grande relevância para a decoração de interiores e o mobiliário; uma estética a serviço de seu tempo, em busca de prazeres do cotidiano. Surgiram as joias para serem usadas durante o dia, mais leves e assimétricas. E joias noturnas, que privilegiavam o brilho à luz dos candelabros.